“Café com prosa” discute exclusão das infâncias nas políticas públicas em São Gonçalo

Na manhã do dia 30 de julho, nas dependências da UERJ no Campus São Gonçalo, mais de 50 pessoas entre educadoras, assistentes sociais, pedagogas, representantes de creches assessoradas pelo Campo, de movimentos sociais, professores e mães estiveram presentes no Café com Prosa para discutir a exclusão das infâncias nas políticas públicas do município. Segundo a professora Maria Teresa Goudart, integrante do corpo docente da UERJ com enorme experiência em Educação Popular com ênfase na formação de professores de educação infantil, citando dados do IBGE de 2010, São Gonçalo é a 14ª cidade do Brasil em número de habitantes, com mais de 100 mil crianças. Menciona ainda que aproximadamente 38 mil são crianças de 0 a 4 anos e em torno de 46 mil de 4 a 5 anos. Hoje há cerca de 32 creches comunitárias que conseguem atender perto de 80 crianças cada uma. Ou seja, algo em torno de 2 mil crianças atendidas. A pergunta que ela faz é: onde estão as outras crianças? “Temos uma cidade inteira que está pouco se importando com elas”, enfatiza a professora. Entre os inúmeros problemas das creches comunitárias está o atraso no repasse das verbas do convênio, que atualmente recebe o nome de fomento, feito com o governo municipal. Maria de Fátima Angelo, assessora do Campo, relata todo empenho jurídico que tem sido feito por iniciativa da instituição para resolver questões que vão de editais completamente fora das novas diretrizes, até mudanças constantes nos responsáveis da área governamental do município, descontinuando assim as negociações o que protela a solução dos problemas. “Há situações absurdas trazidas com as regras de fomento. Se quando a creche recebe a visita da representante da secretaria municipal de educação a criança não está, aquela verba destinada a ela é cortada. Ou seja, a criança não pode adoecer. O que vamos fazer? Pedir para que a mãe traga a criança doente?”, questiona Fátima. De acordo com a representante e voluntária do Movimento Pró-Criança de Alcântara, instituição que funciona com doações há 23 anos nas dependências da Igreja São Pedro de Alcântara, que atende hoje apenas 23 crianças de 5 a 12 anos, oferecendo a elas três refeições e atividades como reforço escolar, esportes, atendimento pedagógico, psicológico e odontológico, há uma grande fila de espera que eles não conseguem atender. Outra séria preocupação que aflige os voluntários do Movimento e que a partir dos 12 anos, ao entrar na pré-adolescência, eles não podem mais acolher e não tem para onde encaminhar o jovem. Justamente numa idade em que começam a  ficar mais vulneráveis ao tráfico de drogas. Também presente no Café com Prosa, a representante da Comunidade S8 que há 46 ajuda na transformação de vidas, promovendo a prevenção ao uso de drogas e álcool em crianças, adultos e  no apoio aos seus familiares, fala que a história da S8 é estar nos Conselhos, nos Fóruns, unindo forças para fortalecer posição e assim influenciar nas políticas públicas. Acha importante que as creches também se mobilizem para preencher cada vez mais esses espaços. Depois de muitos outros relatos e sugestões, mediados por Maria Luzinete Moreira, coordenadora da Creche Amigos do Serpa, ao final foi redigida uma carta de intenções:

1-Ocupar espaços de defesa e garantias de direitos civis, políticos e sociais da criança e do adolescente ( CMDCA, CME, Fóruns, Conferências, etc…)
2-Criar uma agenda com datas significativas. Sugestões: 11/10 , véspera do Dia da Criança e 25/11, Dia de Combate a Violência Contra Mulher
3- Construção de uma data para uma audiência pública
4-Pensar na construção de metas de curto, médio e longo prazo
5-Contatar agente de comunicação na perspectiva de dar visibilidade as ações promovidas de reconhecimento do trabalho, dificuldades, avanços, resultando em dados positivos como frutos – Criar uma página/ slogan, para relatar o Movimento das creches, discussões e dificuldades.
6 – Estreitar laços com o poder público ( Secretaria de Educação ), sensibilizar na tentativa de desconstruir o olhar perverso, fiscalizador e de controle.
7 – Criar estratégias para dar visibilidade e sensibilizar a comunidade ao qual está inserida a creche e sua importância para o bairro.

Como primeira ação, durante o evento foi tirada uma comissão integrada por seis dos presentes para participar da próxima reunião do Fórum, no dia 22 agosto, na Paróquia São Pedro de Alcântara,Centro do Alcântara, próximo ao Pátio Alcântara.