Biodigestor: alternativa para as comunidades

O Campo nos dois projetos ligados a saneamento básico que está desenvolvendo em parceria com as instituições SELAVIP e CNBB, respectivamente, consta a construção de biodigestores. O uso de biodigestores não substitui as redes de saneamento, mas funciona como alternativa para comunidades que, por diversos fatores, não estão ligadas as redes regulares de esgotamento. Beneficia assim a saúde dos moradores e a preservação do meio ambiente. Inclusive, uma das comunidades beneficiadas em Cachoeiras de Macacu (RS) tem recebido suporte do poder público municipal. Baltazar Melgado, arquiteto e urbanista com especialização em Gestão Ambiental com muita experiência em assessorar cooperativas e grupos sociais, e quem tem estado a frente da construção e explica como funcionam e quais as vantagens dos biodigestores.

1– Há vários modelos de biodigestores. Qual o que está sendo usado nos projetos do Campo e qual a sua vantagem em relação aos demais?

Baltazar – O modelo que adotamos e estamos construindo é o de cúpula fixa, chamado modelo Chinês. Além desse modelo, os mais comuns no Brasil são o chamado modelo Indiano, de cúpula móvel e os biodigestores industrializados do tipo inflável. As vantagens da utilização do modelo Chinês, é a facilidade de construção, pode ser construído inteiramente de forma artesanal, facilitando a apropriação da técnica de construção e manutenção pela comunidade, e o custo/benefício é melhor. O armazenamento do gás é feito de forma mais segura e a manutenção é menor e seu custo mais reduzido.

2 – O que é preciso para instalação de um biodigestor? Existe algum requisito em relação ao tipo de terreno, distância das casas que serão servidas ou algo que seja necessário para a instalação do equipamento?

Baltazar  – Há sempre a necessidade de uma avaliação técnica, verificar as condições do terreno para um projeto e um dimensionamento adequado e, principalmente, avaliar se há viabilidade em relação aos custos de instalação. Se há rede captadora para alimentar o biodigestor, dependendo das condições, essa rede pode ser muito cara, inviabilizando o projeto ou necessitando uma parceria com o poder público para sua execução e a ligação das casas nela. Além, é claro, da não existência de rede pública com um sistema de tratamento adequado, sendo existente, tornaria desnecessária a construção do Biodigestor.

3 – Outras comunidades no estado do Rio usam esse tipo de equipamento? É possível citar alguma?

Baltazar – A comunidade pioneira no uso desse modelo é a comunidade do Sertão do Carangola em Petrópolis (projeto da ONG OIA), onde funciona um Biossistema Integrado de uso coletivo por um assentamento habitacional, composto de biodigestor, filtros, zonas de raízes e lagos. Na comunidade de Manga Larga, em Itaipava, existem vários biodigestores individuais em várias casas, além de vários condomínios usando esse sistema na cidade. A adoção dos biodigestores pela concessionária Águas do Imperador foi muito importante para consolidar esse tipo de solução de saneamento, a empresa implantou o sistema em várias outras comunidades de Petrópolis. Destacamos também, o Biodigestor construído no Vale Encantado, Alto da Boa Vista, Rio de Janeiro, que foi o primeiro biodigestor implantado em uma comunidade, com características de “favela”, na cidade do Rio de Janeiro, entre outros exemplos. E agora o que foi construído pelo Campo na Comunidade do Tabuado, Cachoeiras do Macacu(RJ), que tem recebido suporte do poder público local. Um biodigestor para sanear um conjunto habitacional Municipal.

4 – O equipamento necessita de manutenção? De quanto em quanto tempo? E de que é constituída essa manutenção? Qual o custo para os beneficiados?

Baltazar – A manutenção vai depender do uso adequado do sistema pelas pessoas beneficiadas, a condução dos dejetos é feita por rede de esgoto convencional, sempre sujeitas a entupimentos. Se bem dimensionada essa necessidade de manutenção diminui. É importante também um trabalho de educação ambiental com a comunidade. Em relação ao biodigestor propriamente dito, dependerá da capacidade e a forma como foi construído, tendo em média um uso de três a cinco anos sem a necessidade, de retirada do material sólido acumulado dentro dele. Esse material pode ser retirado manualmente ou utilizando um caminhão com equipamento de sucção tipo limpa fossa. Além disso, as plantas das zonas de raízes poderão requerer pequenos cuidados e a utilização do biogás monitorada para seu melhor aproveitamento. O ideal é fazer um treinamento com representantes da comunidade e ficar acordado que um ou mais moradores sejam os responsáveis pelas tarefas de manutenção elencadas no treinamento. É interessante também a elaboração de uma cartilha, explicando o passo a passo da operação e manutenção do sistema. Quando a parceria é com o poder público, as equipes de manutenção das prefeituras ou concessionárias facilmente realizam essa manutenção. Quanto ao custo será praticamente o da mão de obra devido à simplicidade de funcionamento do sistema.

5 – O reaproveitamento dos detritos pode ser apenas como adubo? A questão da geração de gás é mais complicada?

Baltazar -A geração de biogás é feita no interior do biodigestor e seu armazenamento fica na região da cúpula, tudo de maneira simples e pratica, a quantidade vai depender das dimensões e da correta utilização do sistema. O ideal é só o lançar os dejetos provenientes do vaso sanitário e da alimentação por outros tipos de matéria orgânica, por exemplo, restos de comida. O gás sai em baixa pressão por uma tubulação simples, podendo ser de plástico, borracha ou PVC e pode alimentar diretamente um fogão, necessitando apenas uma simples adaptação para o uso. Outras aplicações poderão ser feitas como o uso para iluminação, aquecimento ou para alimentar motores e geradores, sempre dependendo da capacidade do sistema e a quantidade de biogás produzida, que pode ser quantificada por medidores específicos.Os sólidos, retirados de dentro do biodigestor, depois de estabilizado poderão ser utilizado como adubo. Além disso, a parte liquida depois de filtrada geralmente por zonas de raízes pode ser usada como biofertilizante, também  pode-se compor uma instalação aquapônica  associada a criação de peixes e outros animais.